segunda-feira, 16 de maio de 2011

A Morte do Caixeiro Viajante


Por Pachá

Sempre me ocorre este pensamento, “quanto estou valendo morto”, toda vez que renovo seguro de vida. Estes dias chego à minha baia e me deparo com a aquele pedaço de papel e pigmentos de tinta mensurando algo que não deveria ter valor, personificando a finitude da mortalidade. Mas aprendemos a nos confortar com a frieza dos números, ou pelo menos assim transparecemos. E nos sentimos normais quando fazemos parte da mercantilização das coisas e do meio que nos rodeia.

Arthur Miller, dramaturgo americano, expressou de forma como poucos esse sentimento volúvel da era moderna quando encenou a peça The Death of a Salesman, nos idos de 1949. Em sua critica ao capitalismo, Miller nos diz que o sujeito em busca do sucesso corre o risco de perder a identidade, se tornando um pária de si próprio. O drama do vendedor William Loman que após 35 anos de trabalho como vendedor em busca do sonho americano se transforma na funesta constatação de que ele vale mais morto do que vivo.


Tecnicamente acho esse filme do Schlondorff o mais fraco, a fotografia é artificial os planos são curtos e estreitos. Os cenários são tipicamente os de um teatro, quase não há tomadas externas, e quando há percebe-se que é um cenário. Porém a virtuose do filme está na carga dramática, bem ao estilo teatral. E creio que tudo o mais foi sumariamente relegado a secundário em detrimento da preparação dos atores e a fidelidade ao texto de Miller. Ao final a percepção que se tem é que o filme é uma peça de teatro filmada.

No filme o papel de William Loman coube a Dustin Hoffman. William pai de família, cujos filhos, Biff interpretado por John Malkovich e Happy por Stephen Lang, são criados a perseguir o sonho americano, riqueza e felicidade. Sr. Loman vê em Biff a esperança da realização desse sonho, uma vez que Biff é um atleta do time de futebol americano com um futuro brilhante pela frente. Adulado e encorajado a calcar suas escolhas na objetividade de bens finitos, Biff descobre o fracasso, é reprovado em matemática. Seu mais importante jogo é um fiasco lhe restando como prêmio a perda da autoestima, autoconfiança e por fim o abismo da depressão ao constatar que não é um vencedor. Mas seu pai continua acreditando no sonho americano e insistindo que Biff ainda será um vencedor, mesmo já passando dos trinta. Happy por sua vez é o filho negligenciado e, portanto a sombra do irmão mais velho. A senhora Loman vivida por Kate Reid é o elo entre a família que perdeu a união. Pai e filhos mal conversam e quando o fazem é a respeito de chances desperdiçadas e de um futuro glorioso, uma nova casa, um novo carro.

Os lanços afetivos da família Loman inevitavelmente degradados pela visão impregnada de valores materialistas, encontra o ápice na solução de William para melhorar a vida da família, se matando, deixando para mulher e filhos, o valor do seguro de vida.


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